Obesidade sarcopênica, pós cirurgia bariátrica e metabólica
A Sarcopenia ( sarc : carne e penia : perda) foi definida no ano de 1989, por Irwin Rosenberg, com o objetivo de descrever especificamente a perda de massa muscular associada ao processo de envelhecimento (Cruz-Jentoft et al ., 2010; Narici & Maffulli, 2010; Rolland & Vellas, 2010; Fielding et al ., 2011), entretanto esse termo não contempla apenas a redução da massa muscular, mas também a perda da força muscular e diretamente o declínio do desempenho físico (Rolland & Vellas, 2010; Rosenberg, 2011).
Algumas das características da sarcopenia, são observadas no pós operatório da cirurgia bariátrica e metabólica, dentre estas à redução de gordura corporal, associada a redução de massa muscular e da funcionalidade à médio e longo prazo.
Dessa forma, a avaliação da composição corporal do portador de obesidade mórbida, deve obrigatoriamente fazer parte da avaliação nutricional e clínica dos pacientes tanto no pré, quanto no pós-operatório. Alguns autores, sugeriram, há mais de 15 anos, dentre estes Prentice e Cols (1991), que redução de massa muscular em indivíduos obesos, durante tratamento de redução de peso, como a razão de 75% de massa de gordura corporal para 25% de massa muscular, seria considerado um grau aceitável.
Baseiam-se no fato de haver aumento de massa muscular durante processo de ganho de peso corporal (Jaffrin et al, 2008, Marks et al, 1995; Van Dale et al, 1995). Apesar das adaptações do metabolismo para preservar a composição corporal, a perda de peso ocasionada por tratamentos como a restrição calórica e cirurgia, geralmente são acompanhadas pela redução de massa muscular, que é dependente do grau e do déficit energético imposto (Van Dale et al, 1990; Hill et al, 1987; Nieman et l, 1988; Van Gemert et al 2000) .
Outro fator que parece ser determinante na cota de redução da massa muscular é o percentual de gordura corporal no início do tratamento. Segundo alguns estudos, indivíduos magros, com peso considerado normal, perdem muito mais massa muscular que o indivíduo obeso em um processo de redução de peso (Forbes et al, 1987; 2000). Além do grau de restrição calórica, da duração do tratamento e do percentual de gordura corporal do início do tratamento, outros fatores como o genótipo, a composição da dieta utilizada no tratamento, a incorporação do exercício físico no programa e o uso de fármacos, podem influenciar as alterações na composição corporal durante a redução de peso corporal (Forbes GB, 1987).
Analisando este contexto, redução de peso corporal e as alterações na composição corporal dos nossos pacientes bariátricos, podemos considerar que essa condição clínica caracteriza a obesidade sarcopênica, presente no pós operatório.
A “ obesidade sarcopênica”, de acordo com o Consenso Europeu de Sarcopenia, é a perda de massa magra, mas com massa de gordura preservada ou mesmo aumentada (Cruz-Jentoft et al. 2010), pode ainda apresentar peso corporal normal ou IMC dentro
da normalidade, de acordo com as características dos fenótipos da composição corporal, apresentados na tabela abaixo.
Variáveis |
Sarcopenia |
Obeso |
Obesidade sarcopênica |
Peso |
Baixo |
Alto |
Normal |
Massa gorda |
Baixo – Normal |
Alto |
Alto |
Massa muscular |
Normal – Alto |
Baixo |
|
Índice de massa corporal |
Baixo |
Alto |
Normal |
Circunferência da cintura |
Baixo – Normal |
Alto |
Normal-Alto |
Fonte: Hershberger e Bollinger (2015), adaptado de Waters e Baumgartner, 2011, p. 403.
Acredita-se que estas características dos fenótipos da composição corporal, constituem um forte preditor para avaliar as limitações físicas, alterações da marcha, comprometimento do equilíbrio e quedas comparado com os fenótipos sarcopênicos ou obesos (Fielding et al ., 2011).
Assim, a obesidade sarcopênica têm uma enorme importância clínica em nossa prática bariátrica, pois está diretamente associada com um alto risco de desenvolvimento de doenças metabólicas e de mortalidade. Entretanto, atualmente ela é sub identificada (Chung et al .,2013).
Há poucos estudos publicados sobre a etiologia, velocidade e intensidade da obesidade sarcopênica nos pacientes bariátricos, mas sabemos que nesta condição clínica estão envolvidos: ingestão alimentar, inatividade física, desequilíbrio do gasto energético, redução da taxa metabólica em repouso, inflamação crônica e mudanças hormonais, favorecendo o aumento da massa de gordura. (Kim et al ., 2009; Falsarella, G.R. et al, 2014). Além destas, o estado de inflamação crônica induzida pela obesidade, leva à degradação da proteína, e, consequentemente, progressiva perda de massa muscular (Waters & Baumgartner, 2011), com impactos em várias funções metabólicas. Destaca-se ainda, que todas estas alterações contribuem na redução da densidade mineral óssea, vinculadas às condições de osteopenia e osteoporose, risco aumentado no pós operatório da cirurgia bariátrica e metabólica.
O que fazer? Essa é a questão!
“Adoção de hábitos alimentares saudáveis associados com os exercícios físicos, parece ser a medida mais adequada para os pacientes pós cirurgia bariátrica, acometidos pela obesidade sarcopênica, ou seja práticas capazes de reduzir a massa de gordura, aumentar a massa muscular, melhorar a qualidade de vida, reduzir os riscos de morbidade e mortalidade, além de evitar a recidiva da obesidade!!!!”
De forma prática, o que devemos recomendar aos pacientes pós cirurgia bariátrica e metabólica:
Tratamento nutricional
- Atenção as restrições alimentares!!
- Consumir alimentos ricos em leucina (aminoácido de cadeia ramificada,responsável pela síntese proteica): carnes, ovos, leites e derivados
- Consumo de alimentos fonte de DHA (ácido docosa-hexaenoico) e EPA (ácido eicosapentaenoico), ácidos graxos do Ômega-3: peixes e óleos vegetais.
- Suplementação: eficaz quando combinada com alimentação saudável e equilibrada, caso contrário o uso de suplementação de leucina de forma isolada, em pó ou cápsula não terá benefícios.
- Mediante prescrição, orientação e acompanhamento do profissional bariátrico especializado exercícios físicos
- Treinamento de resistência
- Mediante prescrição, orientação e acompanhamento do profissional bariátricoespecializadoPrezados colegas, iremos conversar mais sobre a identificação e o manejo nutricional na obesidade sarcopênica: no pré e pós-operatório, no XVIII Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica 2017, nos dias 04 à 07 de outubro em Florianópolis SC.Um abraço bariátrico à todos!Nutr. Dra. Carina Rossoni
Doutora em Clínica Cirúrgica FAMED PUCRS Membro Efetivo COESAS SBCBM
Bariatric Specialist Care SRC